Homem de capacete trabalhando fazendo solda

A indústria vem retomando suas operações desde o final de julho de 2020 com indicadores positivos apesar da instabilidade do cenário com a pandemia do covid-19. O volume de produção está sendo reestabelecido e, algumas delas, já estão operando na capacidade máxima. “A capacidade média de operação da indústria está seu maior patamar desde 2014. Por outro lado, é nítido a falta de matéria-prima além do alto custo gerado por esse balanço entre oferta e demanda. O cenário da indústria será bem desafiador nos próximos meses”, conta Luiz Seixlack, Associate Partner da Page Executive, especializado no recrutamento e seleção para a indústria. Neste artigo, ele aponta os desafios para 2021, o que é esperado dos profissionais e os cargos e setores em alta.

O perfil do profissional da indústria

Em função do momento atual, o perfil de profissional exigido pelo mercado está passando por uma transformação, que continuará mudando para se adaptar ao cenário de constantes incertezas. Dessa forma, o perfil que demonstrar resiliência, flexibilidade e capacidade de adaptação terá mais sucesso para enfrentar esses desafios.

Além disso, o profissional deve continuar antenado em novas tecnologias e em como trabalhar de forma mais eficiente. Saber lidar com um grande volume de dados, de forma analítica e agregando ferramentas digitais e marketing será a tônica para o mercado ao longo dessa recuperação. 

“Na prática, é um profissional que consegue entender o cenário em que está inserido, se adaptar junto com a equipe e tomar decisões rápidas acompanhando o movimento do mercado, negociando com fornecedores, estando atento à variação cambial, lidando com a flutuação da matéria-prima, adotando os novos protocolos de segurança sanitária e a transformação digital", explica Luiz.

Em posições de liderança, as empresas têm buscado gestores que consigam desenvolver e reter suas equipes. "O afastamento entre as pessoas gerado pela pandemia pode afetar a produtividade. Um perfil demandado é de quem é capaz de manter o time coeso, respeitando o espaço e forma de trabalho individuais. É um gestor menos executor, que delega mais e deixa o time mais autônomo”, acrescenta. Na alta liderança, o foco continua sendo na redução de custos, melhoria de performance e adoção de estratégias para alavancar a carteira de clientes.

"Se o profissional entendeu a movimentação do mercado e desenvolveu suas competências diante disso, tem total chance de evoluir em seu plano de carreira. Por outro lado, caso não acompanhe essa transformação, ou será substituído ou ficará estagnado”, alerta.

3 desafios para a indústria em 2021

  1. Melhorias de processos: utilizar ferramentas de lean manufacturing para reduzir custo, melhorar eficiência e ter equipes mais enxutas e autônomas.
  2. Transformação digital: introdução de conceitos de indústria 4.0, automação e robotização, com gestão a distância das operações. Em uma outra ponta, ferramentas de marketing para alcançar novos clientes e conseguir analisar grandes volumes de dados e indicadores.
  3. Capital humano: a partir do momento que as fábricas evoluem, os profissionais que as operam também devem seguir essa tendência. Por essa razão, há uma necessidade de formação para essa nova massa, com maior capacidade analítica e conhecimentos técnicos ligados a tecnologia.

 

A demanda reprimida do início da pandemia ligado a uma redução dos estoques das empresas para ajuste financeiro, levou a uma alta da produção que vem se mantendo. A tendência é que a produção venha a se estabilizar nos próximos meses em um nível inferior ao que está hoje. Nesse sentido, a mão de obra temporária tem sido bastante utilizada para ajustar essas flutuações.

Cargos e setores em alta

No primeiro trimestre de 2021, pode-se ver uma demanda por profissionais da área de finanças, até por uma questão natural de sazonalidade ligada ao cargo. Na sequência, cadeiras comerciais devem puxar o volume de recrutamento, reforçando a recuperação gradual da economia. Para fechar o ciclo, as posições de operações e supply chain devem se aquecer no final do primeiro semestre. As contratações estão sendo feitas da base para o topo da pirâmide, ou seja, em um primeiro momento vagas de suporte à gestão, que deverá ser seguida por uma mudança no nível executivo. O Brasil, por ser o país mais relevante da América Latina, deve continuar expandindo seus negócios com seus parceiros na região. Por isso, além do inglês que hoje é mandatório, o espanhol pode ser um diferencial para os profissionais.

Durante a crise em 2020, as posições de backoffice, como RH, Compras, Finanças e TI, foram muito exigidas e, por isso, houve menos movimentação nesses cargos. Em um cenário de recuperação neste ano, a tendência é que esses profissionais passem por avaliações de desempenho mais rigorosas que levarão a mudanças de estrutura em caso de performance abaixo do esperado.

Os setores da indústria de base como metalurgia, siderurgia, embalagens, insumos químicos e materiais de construção permanecerão em alta.

Remuneração e benefícios

Devido ao cenário de baixos crescimentos da economia do país aliado a crises sucessivas, o formato da composição da remuneração dos profissionais da indústria sofreu algumas alterações. Primeiramente, a parcela fixa da remuneração se manteve estável ou até mesmo sofreu uma redução ao longo dos últimos anos, devido a uma alta disponibilidade de executivos dispostos a negociar seu pacote de remuneração para voltar ao mercado. 

Por um outro lado, para compensar essa perda, as empresas vêm alavancando a parcela variável da remuneração, com bônus mais agressivos e atrelados a resultados concretos. Além disso, incentivos de longo prazo têm se tornado mais comuns, visando a retenção de talentos e mão de obra qualificada. 

Com relação ao trabalho remoto, a indústria tradicionalmente é mais resistente a essa mudança, até pelo modelo de produção e funcionamento das organizações. De qualquer forma, as funções de suporte à fábrica têm conseguido migrar para esse novo formato de trabalho, em um modelo híbrido e rotativo de ida às fábricas.

Esse artigo faz parte da série "Perspectivas para o mercado de trabalho em 2021”.